Ao ser convidado para escrever sobre o mercado e o cenário do antigomobilismo no Brasil (palavra usada pela primeira vez em 1983 pela revista Autos Antigos). Percebi que muito mais do que apresentar números, eu teria que trazer à tona o alicerce deste mercado. Em outras palavras, será preciso explicar primeiro o que é este mercado, e principalmente o porquê da variação de valores para um mesmo carro.
Vamos iniciar explicando o que é um carro antigo?
Existem muitas controvérsias sobre este assunto. Pois alguns defendem por décadas, carros produzidos até a década de 1980 por exemplo, ou então por tecnologia, exemplos de carros carburados.
O que vou colocar aqui é seguindo o conselho Nacional de trânsito, onde temos uma resolução datada de 21 de maio de 1998 sob o n. 56. Popularmente conhecida como “A lei da placa preta”.
Nesta resolução está escrito que: Todo carro com mais de 30 anos, que mantiveras características originais (não menos que 80%). Tiver um certificado de originalidade espedida por um clube competente, este veiculo será considerado a nível fiscal um item que preserva a história e que é passivo de coleção.
Em cima do que foi brevemente explicado (em outra matéria podemos falar apenas de placa preta). Podemos então dizer que todo carro até 1990 (data desta matéria) e que se mantém o mais próximo de quando ele saiu de fábrica, é considerado um automóvel antigo.
Definindo então esta base do que é um carro antigo, aparece nossa segunda questão, que vamos abordar com mais ênfase nesta coluna.
Porque a diferença de valores tão gritante para um mesmo modelo de automóvel?
Olhando os anúncios (acredito que todos nossos amantes deste mundo tão fascinante o fazem com frequência), nos deparamos com o seguinte cenário. Se colocarmos na nossa busca “fusca 1972” aparecerá valores de R$1.000,00 ate R$ 40.000,00. Isso mesmo, quarenta mil reais. Mas por quê? O que faz este e todos os outros carros ter esta diferença?
Vamos lá, primeiro e mais importante é seu estado de conservação. Aqui cabe uma bronca para todos que estão entrando neste meio ou já estão nele. Carro sem restauro por mais que esteja um pouco desgastado é sim mais valorizado que um carro que passou por um restauro completo.
No mercado americano e como adoramos falar igual a eles por aqui também, chamamos este carros de “unmolested car”. São carros que nunca foram desmontados e se conservam exatamente como saíram de fábrica.
Somente por este entendimento, já temos uma diferença enorme entre os carros anunciados. Outro fator determinante é o modelo em questão. Temos em 1972 dois tipos de fusca. Um com motorização 1300cc e mais espartano e outro com motor 1500cc e acabamento mais requintado (fusquinha x fuscão).
Fusca 1972 1500
Foto: L´art de l´automobileFusca 1972 1300
Foto: Pastore Car Collection
Mas Viana… como eu sei qual é qual?
Aí que esta a questão, pesquise… e muito, principalmente número de chassis. A partir deste número é que temos a confirmação que o carro realmente é o que esta anunciado.
Esta pesquisa é as vezes mais importante que o próprio carro. Imagine só se você descobre pelo numero do chassis que o seu carro é exatamente o último fuscão que saiu de fábrica. Ou até que seu proprietário antigo era o Emerson Fittipaldi.
Tudo isso é levado em consideração para se precificar um automóvel antigo.
O mercado do antigomobilismo no Brasil
O que vemos hoje no mercado, é exatamente esta falta de informação. Muitos estão colocando preço alto pela simples razão do carro estar bonito. E quando observamos de perto, é um carro repintado, com a maioria dos seus itens (faróis, piscas, acabamentos, etc…) de segunda mão.
Em contrapartida, quando olhamos um anúncio de um carro com a pintura já desgastada, seu interior não tão perfeito, seus faróis amareladinhos de tempo, nem damos importância. Muitas vezes até comentamos…”que louco este cara, todo velho o carro e ele pedindo este valor”. Mas é este carro que está correto, ele sim vale o que esta sendo pedido.
O mercado e o cenário do antigomobilismo no Brasil, cresce e muda a cada ano. A paixão por antigos passa de geração a geração, e hoje, vemos uma grande variedade de estilos nas exposições.
Um saudoso abraço e até a próxima.